A Cerquelha.
Poderosa entidade pilosa, marca indelével de personalidade vincada, carimbo de entrada para mil noites de prazer na cálida bôite do sexo oposto. Apêndice piliforme garboso, desenhando poemas através de penadas que fazem do céu estrelado mais um recreio da mono-sobrancelhose.
Bruno Ribeiro sabe do que falamos. O rústico gingão do Sado quebrou corações pelas bancadas portuguesas e britânicas com o seu estilo rural-casual durante década e meia do mais puro sexy football, alicerçado na brutalidade negligé de quem trata a redondinha com altivez carregada de piloso orgulho e frondosa glândula sebácea. Um metro e setenta e dois de pé esquerdo-arte, eternizado no museu do beautiful game.
Bruno "The Elland Road Heartbreaker" Ribeiro mostrou-nos que era possível juntar pêlo e esférico na mesma frase, enquanto se seduz uma elegante fêmea com doce cântico de origem dérmica, exaltado através de envolvente voz amparada num qualquer semáforo de uma cinzenta rua da vetusta e chuvosa Leeds. Só um louco ousaria apostar contra o sucesso do nosso Bruno e o seu confiante meio-sorriso, envolvido em leve odor de feno e curtume - seja às margens do Sado, seja na pachorrente urbe inglesa, a cerquelha levará sempre a melhor. E dama alguma jamais vos dirá o oposto.
Porém, Capitão Toby pisa outros terrenos: os da pequena área e da perene jovialidade envergonhada.
Um sedutor, versado nas intemporais artes do arrastar da asa, conjugadas com o bater de asas que potencia vôos à inalcançável gaveta, local onde os avançados sonham meter a redondinha com o mais desavergonhado golpe de ousadia. Ele chega lá.
Aliás, Capitão Toby é Ícaro nunca derrotado, Herói alado invicto na sua quimera de voar até onde mais nenhum Homem sonheu fazê-lo. Isto apesar de ser odontologicamente desfavorecido, claro.
Taborda é exemplo para todos os que nunca se atreveram a fantasiar em sair da mediocridade imposta por uma cremalheira agressiva. Toby apertou a mão a Deus, calcorreou as gélidas planícies do Planeta Vermelho e nadou na calmaria dos Anéis de Saturno. Toby beijou os abrasadores lábios de Vénus e cheirou o bigode de António Sala. Tudo porque estamos perante um Homem que se permitiu a si mesmo sonhar. Alcançar aquela bola impossível, sair ao cruzamento tenso de um lateral-esquerdo, fazer a mancha ao veloz avançado do Ceará.
"I've got you under my teeth", cantarolava o crooner Taborda às miúdas que o esperavam à saída dos treinos, enquanto procuravam ver o seu reflexo no impecável esmalte do guardião.
Depois lá se refugiava nos balneários com duas ou três sortudas de cada vez, perante o sorriso conivente dos seus companheiros de métier.
"Aqui está um homem que ousou sonhar!", sussurravam felizes enquanto se despediam a caminho de casa.
Com dentição perfeita, porém sós. Eternamente sós.
4 comentários:
Parabéns ao blog. Este texto está mesmo bem escrito, repleto de técnica linguística. Até parece um remate em arco do Nikola Milinkovic, do Chaves/Alverca.
Estou em extase. Que grande pedaço de arte que aqui temos. Ao nível dos estonteantes slaloms protagonizados por Julien Kmet. Brilhante.
Formoso nao Formosinho ainda joga na fenix com o Albertino
Grande texto, qual movimentação rápida de Paulo Almeida, ler este blog é um prazer.
Enviar um comentário